O futebol como um fenômeno da cultura brasileira

As coisas só acontecem por acaso, necessidade ou vontade nossa! Epicuro - filósofo.

sábado, 16 de julho de 2011

Jornalismo Esportivo – Espaço acadêmico

A partir de hoje, este espaço está franqueado aos meus alunos da disciplina de Jornalismo Esportivo, que leciono no curso de Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba. Aqui, o internauta vai poder conferir a produção dos melhores alunos do curso, através de matérias produzidas como exercício da citada disciplina. As duas matérias que seguem, abaixo, foram as duas melhores produzidas no semestre 2011.1, como trabalho prático da cobertura de duas partidas de futebol, válidas por campeonatos diferentes: o último Fla-Flu do Campeonato Brasileiro da série A e o jogo entre o Brasil e o Equador, pela primeira fase da Copa América, que se realiza na Argentina. Confiram os textos.
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O FLA-FLU e Seu Jobson
Quase 100 anos de duelo


Por Larissa Pereira
Larissa Pereira, 24 anos, cursa jornalismo na UFPB
e é repórter da TV Cabo Branco de João Pessoa 

O árbitro, Rodrigo Nunes de Sá, não era o mesmo, nem muito menos o apito, mas aquele som que deu início ao clássico, às quatro horas da tarde, horário de Brasília, no Engenhão, soa há 99 anos e pela exata 378º (trecentésima septuagésima quinta) vez entre esses dois clubes. Um jogo improvável, cheio de dados estatísticos, mas de difícil previsão, assim como qualquer partida de futebol. Mas se você prefere confiar que o passado influencia e pesa no presente, anote: o confronto podia definir o primeiro vencedor desse clássico no estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro. Em três partidas até hoje, foram três empates. Pelo Campeonato Brasileiro do ano passado, o jogo terminou 3 a 3. No Carioca de 2011, mais duas igualdades, por 0 a 0 e 1 a 1. Na segunda, o Flamengo levou a melhor nos pênaltis e avançou para a decisão da Taça Rio. Até o momento, o Flamengo deixou o campo vencedor 134 vezes, contra 119 vitórias do Fluminense e 124 empates.
E foi entusiasmado por entrar para essa história que começou na década de 1910, que o aposentado, Jobson dos Anjos, mais uma vez sentou-se, pontualmente às quatro da tarde, em frente à TV de 42 polegadas na sala de casa, em João Pessoa. A camisa rubro-negra ele não vestiu, dessa vez. Mas garante que não acredita em mandingas ou superstições, “Foi apenas pelo calor”, justificou. Pelos detalhes dá para ver que eu acompanhei essa partida ao lado dele, ou melhor, no sofá ao lado. Sim, porque eu precisava torcer que o torcedor fanático fizesse o seu papel e trouxesse mais emoção a essa reportagem que você mal pode esperar para ler até o final.
As incertezas dos lances que começavam a se apresentar na arena tricolor há 2.544 km de Jobson, mal o permitiam piscar os olhos diante do espetáculo. Eu fui a única que se arriscou a compartilhar com ele os 95 minutos (dois de acréscimo no primeiro tempo e três no segundo). É que em dias como o de domingo com clássico na TV, a filha de cinco anos já sabe que é melhor se ocupar com os brinquedos no quarto; o filho de 11 anos aproveita que o pai não vai se levantar para nada e se esforça para zerar os jogos do vídeo game; Ah! A esposa já se antecipa e aluga um filme que costuma assistir enfurnada na suíte da casal. Não resta dúvida, Jobson se basta na sala.
Foi difícil para o flamenguista suportar calado os 90 passes errados da partida. E ele não suportou. Reclamou demais. Também não era para menos, o Flamengo teve mais posse de bola, mas o Fluminense criou mais chances de abrir o placar. Uma das melhores oportunidades do time de Jobson, no primeiro tempo, saiu dos pés de Ronaldinho gaúcho num contra-ataque, mas Deivid, o camisa 9, estava impedido. Do lado de lá do campo, He-Man acertou a trave de Felipe e por pouco não faz os 18.884 pagantes (23.438 presentes), verem o gol do Flu. Ah! Seu Jobson também, claro, e tantos outros com TV a cabo pelo Brasil à fora.
Os tricolores pediram pênalti em lance polêmico na área rubro-negra. Cesar abriu demais o braço e tocou no rosto de Marquinho. Mas o juiz e os flamenguistas não concordaram.
Minutos antes de comemorar o gol de Williams de cabeça feito aos 45 minutos do primeiro tempo, o rubro-negro de João Pessoa e os demais assistem o lateral Carlinhos, do Tricolor, receber um cartão amarelo depois de chegada forte no homem que fez o gol do Flamengo.
Como foi o gol? Já que foi do time de Seu Jobson, eu resolvi dar a ele o privilégio de narrar:
- “Junior Cesar rola para Thiago Neves que cruza para Willians, sozinho no lado esquerdo da pequena área tricolor. Ele cabeceou para o gol. Cavalieri ainda tentou defender, mas a bola já tinha entrado. 1 a 0 para o Mengão.”, narrou o torcedor.
Dois minutos depois, intervalo no clássico. Intervalo também na aflição de todos os torcedores (rubro-negros e tricolores), que para relaxar, acredite, preferem rever os lances do primeiro tempo. Coisa de jogo de futebol, coisa de clássico. Hora de rever se Williams estava impedido na hora de fazer o gol: as muitas câmeras instaladas mostravam o zagueiro Gum dando condições.
Flamengo e Fluminense entram em campo para o segundo tempo sem alterações. O primeiro lance de perigo da segunda etapa vem de uma cobrança de falta perigosa em frente à área do Flamengo. Souza faz a cobrança, mas a bola passa à direita de Felipe, para fora. Alívio para Seu Jobson, que acompanhou com o corpo, a trajetória da bola e não escondeu o sorriso, mesmo sem a certeza de que em breve, àquela seria a quarta vitória seguida do Flamengo, que segue invicto no Brasileirão 2011.
O atacante tricolor Ciro foi o destaque do lado Fluminense. A criatividade do jogador chamou atenção em pelo menos, três boas chances de gol. Pelo lado do Flamengo, a dificuldade era entrar na área advsersária. Então, o jeito era arriscar de longe. Mas faltava pontaria, principalmente de Thiago Neves.
O Tricolor foi, no segundo tempo, como todo time que está perdendo, para aumentar a aflição e acelerar ainda mais os batimentos cardíacos de Seu Jobson, que afirmou: - “Desse jeito o velho aqui não agüenta. É muita pressão!” O Fluminense mal saía do ataque. Tiveram faltas perigosas, daquelas difíceis de assistir e respirar ao mesmo tempo.
Mas Felipe entendeu que defesa em clássico, vale tanto quanto em uma final de campeonato. O goleiro rubro-negro manteve o rendimento dos últimos jogos e salvou o clube em vários momentos.
Já perto de ouvir o apito final, o Flamengo parecia ter ficado com um jogador a mais. Você não leu errado, é a mais mesmo. Digo isto porque chegou a ser inacreditável que o árbitro Rodrigo Nunes de Sá, não tenha visto uma tapa de Airton no rosto de Souza. Ele estava em cima do lance. Ah! Teve falta dentro da área a favor dos tricolores mas não tiveram marcações.
Enquanto isso, os outros onze cuidaram de segurar o placar e o time todo ficou retrancado. O magrinho Negueba entrou no lugar de Deivid para aproveitar os contra-ataques. Abel Braga usou Rodriguinho e colocou Marquinho para descansar antes do fim da partida, a tentativa era, pelo menos, empatar. Mas parecia que 10 mesmo, só a data do jogo, porque a falta de pontaria do Fluminense mal alcançou o número 5, na escala até a nota máxima (10).
O Flamengo tem agora 19 pontos no Campeonato Brasileiro, três a menos do que o líder Corinthians. O Fluminense, que foi superior em boa parte do jogo, mas perdeu diversas chances, permanece com 12 pontos e permanece na nona posição.
Se aos fluminenses restou pensar no próximo jogo... Seu Jobson comemorou o resultado magro como um chocolate (de muitos gols). Ele fez isso do jeito clássico. Ligou para os amigos tricolores e lembrou o placar de 1 a 0 para o Flamengo. Tudo para não perder a piada e não diminuir a rivalidade.

Ficha técnica:
FLUMINENSE 0 X 1 FLAMENGO

Fluminense: Diego Cavalieri, Diogo (Matheus Carvalho), Gum, Márcio Rosário e Carlinhos; Edinho, Diguinho (Fernando Bob), Marquinho (Rodriguinho) e Souza; Ciro e Rafael Moura. Técnico: Abel Braga
Flamengo: Felipe, Léo Moura, Welinton, Ronaldo Angelim e Junio Cesar; Airton, Willians, Renato e Thiago Neves (Diego Maurício); Ronaldinho Gaúcho (Bottinelli) e Deivid (Negueba). Técnico: Vanderlei Luxemburgo
Gols: Willians, aos 45 minutos do primeiro tempo.
Cartões amarelos: Carlinhos, Diguinho, Márcio Rosário (Fluminense); Airton (Flamengo).
Local: Engenhão, Rio de Janeiro. Data: 10/07/2011. Árbitro: Rodrigo Nunes de Sá (RJ). Auxiliares: Rodrigo Pereira Joia (Fifa/RJ) e Rodrigo Henrique Correa (RJ). Público: 18.884 pagantes (23.438 presentes). Renda: R$ 656.500,00.

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Os meninos do verde, azul e amarelo brilham na Argentina (e aqui também)



Por Bruna Fernandes
Bruna Fernandes é aluna de jornalismo da UFPB
e produtora de notícias (estagiária)
 da TV Cabo Branco de João Pessoa


A partida entre Brasil e Equador fez muita gente assistir à novela das 21h, desta quarta-feira (13), até o fim para não perder nada do começo da disputa. O jogo era lá no estádio Mario Kempes, pela Copa América, em Córdoba, na Argentina, mas a torcida dava para ser ouvida daqui de João Pessoa. Um grito distante de um menino ecoou entre os prédios: “Ganha logo, Brasil!”. E ele ainda iria gritar muito. Era a pressão por ouvir várias vezes nos últimos dias que a Seleção não poderia perder. Tudo conspirava para o Brasil alcançar seu objetivo: a vaga nas quartas de final da Copa América. O verde do gramado, o amarelo da camisa brasileira e o azul do uniforme equatoriano formavam um conjunto de cores bem conhecido dos torcedores da equipe de Mano Menezes.
Só dava para ver a luz da televisão, mas era claro que aquele menino estava ali, sentado, esperando pela chance de ver os outros meninos brasileiros pularem junto com ele.Logo nos três primeiros minutos, o Brasil mostrou que estava diferente. Não só pelas mudanças técnicas em relação aos outros jogos, como a entrada de Maicon na lateral direita no lugar de Daniel Alves e de Robinho no de Jadson. A principal alteração estava na vontade de ganhar que, agora sim, era visível. Um chute de Neymar por cima do gol formou um “uuuh” nas ruas. Os cruzamentos vindos da direita davam expectativas, mas ainda não tinham conclusão na área do Equador. O vizinho mirim não passava dos dez anos de idade e já parecia preocupado com o futuro do Brasil – do futebol do Brasil.Aos 28 minutos do primeiro tempo, ele pôde respirar. Alexandre Pato recebeu de André Santos e marcou de cabeça. Juntamente com as bombas, foi possível ouvir: “Pato, Pato, Pato!”. No estádio, a os argentinos se sentiram na obrigação de torcer contra o rival canarinho, que poderia atrapalhar seus planos de conquistar a Copa em casa, e começaram com o “olé” para o Equador. Mal sabiam eles quantos “olés” o Brasil faria.

Temendo que o adversário avançasse mais no jogo, o volante Noboa derruba Neymar e acaba levando um amarelo do árbitro uruguaio Roberto Silveira. Noboa também não sabia que o perigo viria dos pés de Robinho que, há quase um ano sem marcar para a Seleção, ficou na trave. Já havia passado dez minutos desde o gol de Pato quando veio a resposta do Equador, que precisava ganhar para se classificar. Em uma pequena falha do zagueiro Tiago Silva, Felipe Caicedo chutou e, aproveitando uma grande falha do goleiro Júlio César, empatou a partida. Foi a vez dos meninos lá no Equador vibrarem com o primeiro gol do país nesta Copa América.
Silêncio. Foi isso que traduziu os últimos minutos do primeiro tempo. No campo, os jogadores se desestabilizaram. Na vizinhança, o pequeno não esboçou qualquer reação. Os equatorianos, pelo contrário, atacaram e sufocaram o time de Mano Menezes, que já apresentava sinais de aflição. Nesse momento mais complicado, Júlio César fez valer seu lugar e se esticou para defender a gol de seu país. Um dos chutes do meio campista Arroyo deu trabalho para o goleiro. Já eram sete finalizações dos azuis contra cinco dos amarelos – mas as cores ainda se misturariam para fazer um só resultado. Depois de um minuto de acréscimo, o árbitro, encerrou a primeira etapa. No intervalo, a criança deve ter escutado de sua mãe: “Filho, tá na hora de dormir, amanhã você vê o no que deu”. A televisão permaneceu ligada.
Sem nenhuma alteração, as seleções voltaram ao campo. Quatro minutos no cronômetro e, depois de receber de Ramires, o esperado serviço de Ganso apareceu. O passe foi para Neymar que, com categoria, fez o segundo gol. Se o jogo terminasse no 2 a 1, o Brasil teria que disputar no sorteio o primeiro lugar no grupo B com a Venezuela. Mas, não terminaria assim. Para tristeza dos meninos, dentro e fora do Mario Kempes, Caicedo, aos 13 minutos, marcou novamente. O atacante fez até os equatorianos, por um momento, esquecerem a ausência de seu principal jogador, o meio campo Valência. Ele lesionou o joelho logo na estreia contra o Paraguai e não pôde jogar. “Ah, não!”e alguns palavrões saíram pelo ar durante uns dois minutos. A pausa aconteceu quando Pato fez seu segundo gol e terceiro do Brasil: depois da tentativa de Neymar, o goleiro Elizaga espalmou e o outro menino completou.
A partir daí, a Seleção se soltou ainda mais e mostrou que pode brilhar. Na metade do segundo tempo, Maicon, um dos nomes da partida, soltou uma bomba contra o gol equatoriano. Logo após, Ganso apareceu de novo e tocou para Pato que chutou para fora. Em um jogo sem muitas faltas e sem violência, o árbitro não teve trabalho. Ainda deu um cartão amarelo para André Santos por uma falta cometida, mas o jogo seguiu tranquilo.

Estava bom de ver a troca de posição entre Robinho e Neymar, sempre tentando agitar lá na frente. Sem firulas, o Brasil deu chutão, roubou bola e, mais importante, fez gol. Neymar que o diga. Fez o garotinho gritar mais uma vez– e talvez acordar a mãe. Aos 26 minutos, Neymar fez o quarto e aliviou a ansiedade pela vaga nas quartas. A jogada veio, mais uma vez, de Maicon, que mostrou que Mano acertou em colocá-lo no jogo. Já em clima de fim de partida, os técnicos fizeram algumas substituições. Roberto Silveira trocou ÉdisonMéndez por Narciso Mina e o brasileiro colocou Elias no lugar de Ganso. O meio campista do Equador Oswaldo Minda levou cartão amarelo, mas isso já era irrelevante para a torcida. Na vizinhança já estava tudo calmo, sem bombas, fogos ou gritos – talvez um “ufa”, bem baixinho.
Mais substituições no Brasil: saíram Neymar e Pato para a entrada de Lucas e Fred, que ainda teve boa chance contra o goleiro Elizaga, mas não concluiu. No Equador, o técnico fez todas as alterações que podia, entretanto nada ajudou. Noboa saiu para Montaño entrar e assistir bem de perto a vitória brasileira junto com Achilier, que entrou na vaga de Reasco. O bandeirinha não quis que fosse uma vitória mais recheada e deu impedimento no gol de Robinho, aos 46 minutos. O zagueiro e o goleiro rivais davam condição, mas restou ao atacante conter a comemoração e guardá-la para os próximos jogos.
Há dez anos sem ganhar uma partida na Copa América, o Equador só terá outra chance em 2015. Ganhar do Brasil, então, continua um tabu. Nos 12 confrontos de Copa América, o Equador perdeu 11 e empatou um. Em uma geral de duelos, foram 22 vitórias brasileiras, 3 empates e apenas duas vitórias equatorianas. O jogo desta quarta-feira acrescentou mais uma derrota na conta deles. Já a equipe brasileira, classificada em 1º lugar do grupo com 5 pontos e um gol a mais que o segundo, a Venezuela, enfrenta o Paraguai no próximo domingo (17), em La Plata às 16h. Agora o destino é a terceira vitória seguida nas Américas.
O amarelo já estava no peito do Brasil, o verde foi dominado e o azul mostrou quem é seu verdadeiro dono. As cores se uniram para trazer de volta a bandeira para as varandas brasileiras. O menininho deve ter ido dormir com um sorriso no rosto pela vitória e pelo próximo jogo ser mais cedo e a mãe não reclamar.













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